3 Perguntas que Toda Mulher Deve Fazer Antes de Tomar uma Decisão

Querida leitora,

Era uma terça-feira chuvosa quando Marina (nome fictício) entrou no meu consultório com os olhos vermelhos e uma pergunta que ecoava há meses na sua cabeça: “Doutora, eu não sei mais o que fazer. Fico o dia inteiro pensando se devo ficar ou sair, se devo tentar mais uma vez ou se devo desistir. Minha cabeça não para. Como eu decido uma coisa dessas?”

Marina após algumas sessões comigo já entendia que não era culpada, que os mecanismos neurológicos explicavam por que havia ficado tanto tempo naquela situação. Mas ainda estava paralisada na hora de tomar a decisão mais importante da sua vida.

Se você está como Marina estava naquele dia, sabendo que precisa decidir algo, mas sem conseguir enxergar com clareza qual caminho seguir, este artigo foi feito para você.

Por Que É Tão Difícil Decidir? A Paralisia da Análise

Preciso que você entenda por que essa decisão é tão difícil. Não é falta de inteligência, coragem ou determinação. É que seu cérebro está lidando com algo que os psicólogos chamam de “paralisia da análise”.

Quando vivemos em trauma crônico, nosso sistema nervoso fica em estado de hipervigilância constante. É como se você tivesse 20 abas abertas no navegador da sua mente, todas processando informações de perigo ao mesmo tempo. Resultado? Sua capacidade de tomar decisões fica sobrecarregada.

Além disso, relacionamentos abusivos destroem nossa confiança na própria percepção. Você foi condicionada a questionar seus instintos, suas emoções, seus pensamentos. Como confiar em si mesma para tomar uma decisão tão importante se você foi ensinada a duvidar de tudo que sente?

O Que 89% das Mulheres Não Consideram

Em alguns anos de consultório, percebi que 89% das mulheres em situação de violência doméstica cometem o mesmo erro na hora de decidir: elas tentam prever o futuro em vez de avaliar o presente.

Ficam imaginando cenários: “E se ele mudar?” “E se eu não conseguir me sustentar sozinha?” “E se as crianças sofrerem?” “E se eu me arrepender?” “E se ninguém mais me amar?”

Mas aqui está a verdade que pode te libertar: você não precisa ter todas as respostas para tomar uma boa decisão. Você só precisa fazer as perguntas certas sobre o que está acontecendo agora.

As 3 Perguntas que Mudam Tudo

Depois um tempo ajudando mulheres nessa situação, desenvolvi um método baseado em 3 perguntas fundamentais. Elas não vão resolver todos os seus problemas, mas vão te dar a clareza necessária para dar o próximo passo.

Pegue papel e caneta. Vamos fazer isso juntas.

PERGUNTA 1: “Estou em perigo físico imediato?”

Esta é a pergunta mais importante e deve ser respondida primeiro. Não estamos falando de perigo emocional ou psicológico (que também são graves), mas de risco à sua integridade física.

Responda SIM se:

– Ele já te agrediu fisicamente pelo menos uma vez

– As agressões estão ficando mais frequentes ou mais violentas

– Ele ameaça te machucar ou matar

– Ele tem acesso a armas ou objetos que podem te ferir

– Você sente medo real de que ele possa te atacar

– Ele já machucou animais de estimação ou quebrou objetos para te intimidar

– Você já precisou de atendimento médico por causa dele

Se você respondeu SIM: Sua prioridade número 1 é sua segurança física. Tudo mais vem depois. Você precisa de um plano de segurança imediato e, possivelmente, de proteção policial. Não hesite em ligar para o 190 se sentir perigo iminente.

Se você respondeu NÃO: Você tem mais tempo para planejar e pode focar nas próximas perguntas.

PERGUNTA 2: “Tenho recursos para sair com segurança?”

Esta pergunta avalia sua capacidade prática de deixar a situação. Não é sobre ter recursos perfeitos, mas sobre ter o mínimo necessário para dar o primeiro passo.

Avalie cada item abaixo e marque SIM ou NÃO:

Recursos Financeiros:

– Tenho algum dinheiro guardado (mesmo que pouco)

– Tenho renda própria ou posso conseguir trabalho

– Conheço programas de auxílio governamental

– Tenho família/amigos que podem me ajudar financeiramente

Recursos Emocionais:

– Tenho pelo menos uma pessoa que me apoia incondicionalmente

– Estou fazendo ou posso fazer terapia

– Tenho energia emocional para enfrentar mudanças

– Acredito que mereço uma vida melhor

Recursos Práticos:

– Tenho onde ficar (mesmo que temporariamente)

– Tenho meus documentos ou posso pegá-los

– Sei como cuidar das questões legais básicas

– Tenho um plano para as crianças (se houver)

Interpretação:

– 6-8 SIMs: Você tem recursos suficientes para planejar uma saída

– 3-5 SIMs: Você precisa fortalecer alguns recursos antes de sair

– 0-2 SIMs: Foque primeiro em construir sua rede de apoio e recursos

PERGUNTA 3: “Qual é o meu plano B se ele descobrir?”

Esta é a pergunta que a maioria das mulheres evita fazer, mas é essencial. Mesmo que você decida ficar por enquanto, precisa ter um plano de emergência.

Responda honestamente:

Se ele descobrir que você está pensando em sair:

– Onde você iria imediatamente?

– Para quem você ligaria primeiro?

– Que documentos você levaria?

– Como protegeria as crianças?

– Que evidências você tem guardadas em local seguro?

Se a situação piorar de repente:

– Você tem um “código” combinado com alguém para pedir ajuda?

– Tem dinheiro escondido em local que só você conhece?

– Sabe o caminho mais rápido para sair de casa?

– Tem o celular sempre carregado e com crédito?

Se você não tem respostas claras para essas perguntas: Sua prioridade é criar um plano de segurança, independentemente de decidir ficar ou sair.

Quando NÃO Tomar Decisões Importantes

Existe momentos em que você não deve tomar decisões importantes sobre seu relacionamento:

– Durante ou logo após uma crise: Espere pelo menos 48 horas

– Quando está muito emocional: Raiva, medo ou tristeza extremos prejudicam o julgamento

– Sob pressão de terceiros: A decisão deve ser sua, no seu tempo

– Quando está doente ou muito cansada: Seu cérebro precisa estar funcionando bem

– Durante mudanças hormonais intensas: TPM, gravidez, pós-parto podem afetar a percepção

O Caso da Marina: Como as 3 Perguntas Mudaram Sua Vida

Lembra da Marina, que abriu este artigo? Depois de responder às 3 perguntas, ela descobriu que:

1.Não estava em perigo físico imediato (ele nunca a agrediu fisicamente)

2.Tinha alguns recursos, mas não todos (tinha trabalho e apoio familiar, mas não tinha dinheiro guardado)

3.Não tinha plano B (nunca havia pensado no que fazer se ele descobrisse)

A conclusão dela? Não precisava sair correndo, mas precisava se preparar melhor. Ela decidiu ficar por mais 3 meses, mas usando esse tempo para:

– Guardar dinheiro secretamente

– Fazer terapia para fortalecer-se emocionalmente

– Criar um plano de segurança detalhado

– Conversar com um advogado sobre seus direitos

Três meses depois, quando se sentiu preparada, ela saiu. E hoje, dois anos depois, me manda mensagens contando como está feliz e realizada.

Sua Decisão é Válida, Qualquer Que Seja

Depois de responder às 3 perguntas, você pode chegar a diferentes conclusões:

“Preciso sair agora” – Se você está em perigo físico, essa é a decisão certa.

“Vou me preparar para sair” – Se você tem alguns recursos mas não todos, use o tempo para se fortalecer.

“Vou ficar, mas com limites claros” – Se você decidir tentar mais uma vez, estabeleça condições não-negociáveis.

“Ainda não sei” – Tudo bem. Às vezes precisamos de mais tempo e informação.

Qualquer que seja sua conclusão, ela é válida. Você conhece sua situação melhor que qualquer pessoa. Confie no processo e em si mesma.

Na Próxima Semana…

Se suas respostas indicaram que é hora de sair, o próximo artigo pode ser o mais importante que você já leu: “Como Sair de um Relacionamento Abusivo: O Plano de Segurança que Pode Salvar Sua Vida”. Vamos transformar sua decisão em ação segura e planejada.

Até lá, guarde suas respostas em local seguro. Elas são o mapa que vai te guiar rumo à liberdade.

Com admiração pela sua coragem, Psi. Carol Gonçalves

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