
Comunidade cristã denuncia escalada de perseguição religiosa; templo havia sido construído nos anos 1990
Por Patricia Scott
Sem aviso prévio, uma templo da Igreja Pentecostal do Sudão (SPC) foi demolido por autoridades sudanesas em 8 de julho, no distrito de El-Haj Yousif, em Cartum do Norte. O espaço ficou reduzido a escombros durante uma operação conduzida por agentes do governo do Sudão com apoio de forças policiais, militares e grupos extremistas islâmicos, segundo relatos de testemunhas e organizações cristãs internacionais.
Escavadeiras e caminhões chegaram ao local por volta do meio-dia, escoltados por tropas armadas, dando início à destruição do complexo, que incluía o templo principal, escritórios administrativos, casa de hóspedes e outras instalações. “Foi chocante”, relatou uma testemunha à organização Christian Solidarity Worldwide (CSW).
Inicialmente, não houve explicação oficial. Posteriormente, autoridades informaram que a demolição fazia parte de uma operação de remoção de edificações consideradas “irregulares” em Cartum. No entanto, líderes cristãos afirmam que a igreja possuía documentação legal e veem a ação como um ataque direto à liberdade religiosa. “Eles nem sequer pediram os papéis antes de demolir tudo”, disse um líder local.
Cristãos sudaneses recorreram ao Conselho de Igrejas do Sudão, solicitando que o episódio seja reconhecido como uma grave violação do direito à liberdade de crença. A demolição gerou forte reação de organizações de direitos humanos e intensificou o alerta entre lideranças cristãs sobre uma nova onda de repressão religiosa no país.
Temor de novas demolições
O episódio ocorre em meio ao avanço das Forças Armadas Sudanesas (SAF) sobre Cartum, retomada das mãos das Forças de Apoio Rápido (RSF) em maio deste ano. Desde o início da guerra civil, em abril de 2023, as duas facções rivais têm sido acusadas de atacar locais de culto e comunidades religiosas.
Rafat Samir, presidente do Conselho da Comunidade Evangélica do Sudão, havia alertado semanas antes que templos cristãos em áreas periféricas estavam na mira das autoridades. “Eles vão atacar todas as igrejas nas áreas periféricas e usar justificativas legais para demolir os templos nos centros urbanos”, afirmou.
O pastor Juma Sapana, que atua na região, classificou a destruição como reflexo da escalada de perseguição. “Pedimos que os cristãos orem por fortalecimento neste tempo de provação e pela proteção da igreja no Sudão”, escreveu em publicação nas redes sociais.
Perseguição religiosa
Em 2025, o Sudão alcançou a 5ª colocação na Lista Mundial da Perseguição, elaborada pela organização Portas Abertas — um salto em relação ao 8º lugar do ano anterior. O relatório denuncia bombardeios, saques, ocupações de igrejas e aumento da violência contra cristãos, incluindo assassinatos, abusos sexuais e destruição de propriedades.
Ambas as forças em conflito — SAF e RSF — são acusadas de atacar cristãos deslocados, sob alegação de que estariam colaborando com o inimigo. A guerra, iniciada após o colapso de um acordo para transição democrática, já causou a morte de dezenas de milhares de civis e provocou o deslocamento de mais de 11,9 milhões de pessoas, segundo o Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (ACNUR).
Renovação de leis islâmicas
Entre 2019 e 2021, o Sudão experimentou um breve avanço na liberdade religiosa, com a revogação de leis islâmicas severas e o fim da criminalização da apostasia. Esses avanços foram revertidos após o golpe militar de outubro de 2021, reacendendo a repressão contra minorias religiosas.
Com cerca de 2 milhões de cristãos — aproximadamente 4,5% da população sudanesa — o país volta a viver sob o temor da perseguição patrocinada pelo Estado. A destruição da igreja em Cartum é vista como mais um marco do colapso da liberdade religiosa no Sudão. Com informações Christian Daily e CSW
Fonte: Portal comunhao.com