
Missionária da Junta de Missões Mundiais relata crescimento da obra entre surdos em Angola, São Tomé e Príncipe e Moçambique, mas aponta desafios de estrutura e envio de obreiros
Por Patricia Scott
A missionária Renata Santos de Oliveira, coordenadora da Área de Ações Acessíveis (A3) da Junta de Missões Mundiais (JMM), compartilhou os avanços e desafios do trabalho missionário com surdos em diversas regiões da África. Por meio de uma carta divulgada recentemente, Renata destacou o impacto do Evangelho em comunidades surdas de Angola, São Tomé e Príncipe e Moçambique — e fez um apelo por mais intercessão, obreiros e recursos.
“É por meio da cooperação do Corpo de Cristo que o Evangelho está avançando entre os surdos”, escreveu. “Interceda e agradeça pelo que Deus está realizando em três países.”
São Tomé e Príncipe
Na ilha africana, o ensino da Língua Gestual Santomense (LGS) tem gerado envolvimento crescente da igreja local. “Semanalmente temos novos testemunhos de transformação entre os surdos”, relatou Renata. Apesar dos avanços, a missão enfrenta um desafio urgente: a necessidade de um missionário dedicado exclusivamente ao trabalho com essa comunidade. “Muitos ainda carecem de apoio para avançar nos estudos escolares e no ensino bíblico”, pontuou.
Angola
O trabalho missionário entre surdos se expandiu para diversas províncias do país. Segundo Renata, há quatro frentes de atuação com realidades distintas, mas todas testemunham frutos. Na província do Moxico, a dupla missionária composta por Vasco (surdo) e Mateus (intérprete vocacionado) viajou centenas de quilômetros desde Huambo para iniciar a evangelização da comunidade surda local. Enfrentaram frio, chuvas e barreiras linguísticas, mas foram calorosamente recebidos.
Em Benguela, os missionários Mário (intérprete) e Lourenço (surdo) prosseguem a missão mesmo em meio a dificuldades financeiras e episódios de violência urbana. “Eles testemunham que o próprio Deus os enviou para resgatar os surdos”, destacou Renata.
Na cidade de Huambo, o pastor e missionário surdo Cassinda lidera um ministério com foco em deficientes auditivos, com apoio da Igreja Batista Vida Nova. A missão se estende a projetos com jovens, incluindo atividades esportivas. Um dos frutos do discipulado local foi a reconciliação de dois jovens surdos, Jó e Floriano, cuja amizade restaurada impactou outros à sua volta.
Já na província de Uíge, também sob coordenação do pastor Cassinda, o ministério com surdos ainda precisa de fortalecimento. “Deus está chamando a muitos, mas poucos efetivamente se engajam. No curso de língua gestual, mais de 50 membros participaram, mas poucos seguiram com o trabalho em suas igrejas”, relatou Renata, lamentando a escassez de líderes para acompanhar os interessados na fé cristã.
No Bié, o missionário José Manuel conduz aulas de Língua Gestual Angolana (LGA) e estudos bíblicos aos fins de semana. Há participação ativa dos surdos na Escola Bíblica Dominical, com atenção especial a casos individuais — como o de um menino surdo acompanhado de perto pelo ministério.
Em Luanda, a capital, o foco das orações está voltado à escola especial da cidade, onde crianças surdas estão sendo expostas a seitas. “Pedimos sabedoria para alcançá-las com a verdade do Evangelho”, disse.
Moçambique
No norte do país, oito surdos estão em preparação para o batismo, um sinal claro de amadurecimento da fé. Apesar disso, a região ainda carece de um missionário fixo. “Há vocacionados dispostos a servir, mas a limitação financeira impede o envio. É uma barreira real”, explicou Renata.
Ao final da carta, a missionária renovou seu compromisso com a causa. “Nosso desejo é, com a graça de Deus, enviar missionários surdos para novas cidades em Angola, São Tomé e Príncipe, Moçambique e até na América Latina. Conto com suas orações e sigo com fé, sabendo que não caminho sozinha.”