
Para mães encarceradas, o desafio de criar os filhos à distância exige a construção de redes de cuidado fora dos muros da prisão. E o projeto faz essa ponte
Por Patrícia Esteves
A maternidade é uma missão relacional que envolve presença, afeto e constância, elementos que se tornam difíceis de alcançar quando uma mulher se vê privada da liberdade. Para mães encarceradas, o desafio de criar os filhos à distância exige a construção de redes de cuidado fora dos muros da prisão. A história de Vanessa Franklin é marcada por perdas profundas, reconciliação espiritual e um modelo surpreendente de maternidade compartilhada com a igreja local.
Vanessa jamais imaginou que um erro administrativo colocaria sua vida familiar em colapso. Criada em um lar amoroso e religioso, ela se dedicava ao negócio da família, mas a inexperiência e o orgulho a impediram de buscar ajuda quando necessário. Isso resultou em uma condenação de sete anos por fraude. Durante sua prisão, ela perdeu a casa, o negócio e, mais tragicamente, seu marido e sua mãe.
Porém, o maior sofrimento de Vanessa era a separação das filhas, então adolescentes com 14, 16 e 20 anos quando tudo aconteceu. “Todo mundo diz que quando você está na prisão, o Natal é o dia mais doloroso, mas para mim, foi o Dia das Mães”, compartilha.
Fé que se fortalece
Foi na prisão que Vanessa reencontrou Jesus. “Minha caminhada com Ele me deu propósito e esperança”, conta. No entanto, a saudade das filhas ainda pesava, até que uma capelã apresentou a ela o projeto Angel Tree, que conecta igrejas a filhos de presos. Embora inicialmente relutante, Vanessa compreendeu que a igreja não estava ali para substituir, mas para colaborar no cuidado de suas filhas.
Vanessa escreveu uma carta ao pastor da igreja que cuidaria de suas filhas, detalhando o temperamento delas e como ele poderia ser uma presença atenta em suas vidas. O apoio da igreja foi constante, desde atividades práticas, como o aprendizado de direção de uma das filhas, até conversas do pastor com o primeiro namorado de outra delas no lugar da mãe ausente.
Igreja como corpo
“Ser mãe é algo único, mas a ideia de maternidade compartilhada, embora não convencional, reflete princípios cristãos fundamentais”, pondera Vanessa. A igreja foi uma extensão da família, cumprindo os princípios de Tiago 1:27, que exortam a cuidar dos vulneráveis.
Hoje, Vanessa é diretora de eventos na Prison Fellowship, entidade que a ajudou quando necessitava, e continua apoiando outras mulheres que enfrentam experiências semelhantes à sua.
A história de Vanessa e suas filhas é um exemplo de como a igreja pode se tornar um ponto de apoio vital em momentos de fragilidade, e de como a verdadeira fé é prática. “Sou muito grata à igreja que foi minha parceira parental”, conclui Vanessa. Mesmo atrás das grades, o amor de uma mãe encontrou caminhos, e a igreja foi ponte entre a distância e o cuidado.
A história da Angel Tree, que já atendeu mais de 300 mil crianças nos Estados Unidos por meio de igrejas parceiras, segundo a Prison Fellowship, mostra que não se trata apenas de caridade, mas de convivência. É sobre estar presente, quando alguém precisa saber que ainda pertence ao corpo de Cristo. Na vida de Vanessa, essa presença se traduziu em um novo jeito de exercer a maternidade.
Com informações de The Christian Post