
Denise Seixas assume a presidente da igreja como interina, conforme decisão judicial, mas o conselho da denominação recorrerá, já que decisão é “provisória”
Por Patricia Scott
A 12ª Vara Cível do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) reconheceu, em decisão no início de janeiro, a pastora Denise Seixas como presidente interina e vice-presidente da Bola de Neve Church. A juíza Camila Franco de Moraes também observou que o estatuto da igreja centraliza grande parte das decisões na figura do presidente. Por isso, visando garantir a estabilidade da gestão, determinou a criação de uma Diretoria Administrativa e um Conselho Deliberativo internos para a administração do patrimônio da igreja durante o andamento do processo.
A magistrada justificou a medida, destacando que o estatuto da igreja concentra os poderes decisórios principalmente no presidente, o que, diante do atual cenário conturbado, pode ser arriscado. Ela ainda indicou a possibilidade de avaliar a nomeação de um administrador judicial provisório.
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Na mesma decisão, a juíza anulou a reunião extraordinária de 18 de novembro de 2024, realizada um dia após a morte do apóstolo Rina, na qual Gilberto Custódio de Aguiar foi nomeado para a presidência da igreja.
O Conselho Deliberativo anunciou que recorrerá da decisão, argumentando que a decisão é “provisória”. Em comunicado, a igreja afirmou que a justiça reconheceu a continuidade do poder decisório do conselho e da diretoria administrativa, instituídos antes da morte do apóstolo Rina, dentro da instituição.
A Bola de Neve Church também mantém que a renúncia assinada pela pastora em 27 de agosto continua válida como ato jurídico, o que não pode ser ignorado. Tsto porque, de acordo com a igreja, Denise recebeu os pagamentos acordados, que ultrapassaram R$ 330 mil.
Divórcio invalidado
A 9ª Câmara de Direito Privado do TJSP ratificou a decisão de primeira instância que invalidou o divórcio entre Denise Seixas e Rina. Com base no parecer do desembargador Edson Luiz de Queiroz, de 18 de dezembro, a pastora foi reconhecida como viúva do apóstolo, falecido em novembro devido a um acidente de moto. O acordo de divórcio indicava que Denise deveria deixar o cargo de vice-presidente da Bola de Neve em agosto de 2025.
Em 12 de dezembro, o juiz Fabio Evangelista, da 45ª Vara Cível da Comarca de São Paulo, esclareceu que o documento de separação entre Denise e Rina nunca foi homologado judicialmente, o que levou à sua invalidade. Denise, desde a morte de Rina, defende que a sucessão da liderança da igreja deve ser atribuída a ela.
Movimentações financeiras
Em dezembro, Denise Seixas acusou, judicialmente, Everton César Ribeiro, Gilberto Custódio de Aguiar, Renê Guilherme Koerner e Rodrigo Arruda Bicudo de realizar ações suspeitas após assumirem a liderança da Bola de Neve, incluindo movimentações financeiras nas contas de Rina e o uso de empresas de fachada para serviços à igreja. Em 13 de janeiro, ela apresentou novos documentos à Justiça, alegando desvio de dinheiro e fraude nas contas da igreja.
Everton refutou as acusações, afirmando que as declarações de Denise são falsas e que ela será responsabilizada judicialmente. Ele também afirmou que suas empresas operam dentro da legalidade e que os contratos com a igreja, firmados quando Denise ainda estava à frente, são regulares. “Tomarei as medidas judiciais necessárias caso meu nome ou o de minhas empresas sejam alvo de falsas alegações”, disse Everton, ressaltando também o direito ao sigilo financeiro.
Na denúncia, Denise afirmou que a Bola de Neve possui cerca de 560 templos e uma arrecadação anual de até R$ 250 milhões. Como presidente interina, ela tem exigido acesso às contas bancárias da igreja. Através de seu advogado, Denise destacou que há uma investigação em andamento junto ao Ministério Público de São Paulo sobre as irregularidades financeiras, que tramita na 17ª Vara Cível de São Paulo, sob segredo de justiça.
Por outro lado, o Conselho Deliberativo da igreja reiterou que sua gestão está “totalmente alinhada com a legislação e as melhores práticas de conformidade”. Em nota, destacou que as contas e contratos da organização são auditados anualmente por uma empresa multinacional e que os contratos questionados datam de um período em que Denise ainda fazia parte da direção da igreja.
Sobre a denominação
A Bola de Neve Church é uma das maiores denominações evangélicas do Brasil, com mais de 560 unidades em 34 países. Fundada em 1999 pelo apóstolo Rina em São Paulo, no bairro do Brás, a igreja teve suas primeiras reuniões em 1993, em um espaço emprestado por um empresário do ramo de surfe, com capacidade para menos de 150 pessoas.
A igreja se destaca por sua identidade visual jovem e descontraída, com o símbolo da prancha de surfe substituindo o tradicional púlpito. Em seu site, a igreja afirma que sua missão é plantar o maior número de igrejas no menor tempo possível, formando homens e mulheres à imagem e semelhança de Cristo. Rina acreditava que a igreja evangélica precisava se conectar melhor com os jovens, acolhendo-os para evangelização ao invés de repreender seus hábitos de vida.
O nome “Bola de Neve” foi inspirado pela metáfora de que uma pequena bola de neve pode se transformar em uma grande avalanche com o tempo. Com forte presença nas redes sociais, a igreja possui mais de 390 mil seguidores e adota o slogan “In Jesus We Trust” (Em Jesus nós confiamos).
Fonte: Comunhao.com