sexta-feira, outubro 4

Hipocondria: será que eu tenho?

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A palavra “hipocondria” vem dos radicais de origem grega “hipo”, que significa embaixo, e “condros”, costela. Originalmente, considerava-se que esta região do abdômen era origem de uma série de males, do mau funcionamento intestinal à melancolia. Posteriormente, hipocondria passou a definir aqueles quadros nos quais os pacientes apresentavam uma preocupação excessiva com a possibilidade de estarem doentes ou mesmo com a chance de ficarem doentes.
Tipos de hipocondria
Estes transtornos ocorrem em várias culturas e o excesso de preocupação com a saúde e sintomas de doenças é semelhante em todas
 
Na quinta edição do Manual de Diagnóstico e Estatística da Associação Americana de Psiquiatria, foram definidos dois quadros distintos que caberiam no conceito de hipocondria: o Transtorno de Sintomas Somáticos e o Transtorno de Ansiedade de Doenças. O primeiro se refere a pessoas que apresentam um ou mais sintomas físicos que trazem sofrimento ou dificuldades significativas para o dia a dia do paciente. Ocorrem pensamentos desproporcionais cobre da gravidade dos sintomas ou um alto nível de ansiedade acerca da saúde ou dos sintomas ou, ainda, a pessoa dispende tempo e energia excessivos a estes sintomas ou as suas preocupações com a saúde.
Como exemplo, poderia se citar alguém que tem dores abdominais e, apesar de lhe ter sido garantido que não há nenhum problema clinicamente grave como causa, ela se preocupa o tempo inteiro com esta possibilidade. Veja que não há uma negação do sofrimento da pessoa, que é real, mas o diagnóstico é feito em cima do excesso de preocupação com um risco que já foi descartado.
Outra possibilidade é de alguém que o tempo inteiro vai aos médicos por uma série de sintomas sem maior relevância, como pequenos e eventuais aumentos da frequência cardíaca, uma pequena tontura quando está deitada e se levanta rapidamente, uma leve falta de apetite etc. Uma das características exigidas para o diagnóstico é uma duração prolongada das queixas, por volta de – pelo menos – seis meses. Assim, o que caracteriza estes quadros não é a ausência de uma causa física – que pode, inclusive, estar presente -, mas sim a preocupação excessiva. Este tipo de hipocondria é responsável por cerca de 75% dos casos.
O segundo tipo, o Transtorno de Ansiedade de Doenças é semelhante, com a diferença de que há um grande predomínio da preocupação, havendo ausência de sintomas somáticos ou, se houver, são apenas leves.
Incidência
Estes transtornos ocorrem em várias culturas e o excesso de preocupação com a saúde e sintomas de doenças é semelhante em todas. O que varia, entretanto, é a forma como se manifestam e são descritos. Em culturas onde as queixas mentais são menos valorizadas, as queixas físicas podem ser mais frequentes, há descrições específicas mais presentes em alguns grupos, tais como queimação na cabeça ou sensação de peso no corpo. No Brasil, em algumas regiões, fala-se muito em “gastura”, que pode significar desde dores até a sensação de estar com o estômago empachado.
Não se sabe ao certo qual o número de pessoas com este tipo de problemas, as estatísticas variam em torno de 5% a 7% para o Transtorno de Sintomas Somáticos e de 1,3% a 13% para o Transtorno de Ansiedade de Doenças. Eles são vistos com mais frequência em pronto socorros e ambulatórios clínicos do que nos psiquiátricos, porque os pacientes e, muitas vezes, os próprios médicos, não se dão conta da natureza da queixa.
Por outro lado, o fato de, com frequência, não se encontrar uma causa física ou de a queixa ser desproporcional a esta causa, há uma tendência de os médicos se comportarem de forma preconceituosa, o que é errado, pois o sofrimento é real e este deve ser foco de tratamento – feito por psiquiatras e psicólogos, de preferência.
Tratamento
Não existem tratamentos específicos para as hipocondrias, porém são usadas medicações ansiolíticas (tranquilizantes), antidepressivos, estabilizadores de humor e medicações para dores crônicas. Um componente muito importante são as psicoterapias, que podem conduzidas de forma individual ou em grupo. Também se considera que, se elas ocorrerem exclusivamente no contexto de depressões ou quadros ansiosos graves, podem ser consequência destes e desaparecem com seu tratamento.
Na psicoterapia cognitivo-comportamental, por exemplo, ao mesmo tempo que se pesquisam as circunstâncias de aparecimento, de piora e de melhora dos sintomas, procura-se ajudar a pessoa a prevenir e a enfrentar estas circunstâncias, a lidar com eles de modo que sua vida não seja tão prejudicada. Além de modificar os pensamentos de modo que o excesso de preocupação diminua.

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